Foi desarticulada uma organização criminosa especializada em fraudes eletrônicas, que explorava a fé religiosa para enganar vítimas e conven...
Foi desarticulada uma organização criminosa especializada em fraudes eletrônicas, que explorava a fé religiosa para enganar vítimas e convencê-las a investir em falsas transações financeiras. Estima-se que o grupo, composto por cerca de 200 integrantes, lesou ao menos 50 mil pessoas no Brasil e no exterior. As investigações estão a cargo da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco/Decor), da Polícia Civil do Distrito Federal, responsável pela terceira fase da Operação "Falso Profeta.
Os policiais — um total de 90 — agiram no DF e em seis estados: Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Ao todo, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão contra 15 suspeitos que atuavam no esquema criminoso. Além disso, foram determinadas outras medidas: bloqueio de contas bancárias — nas quais estão depositados 7,9 milhões de reais — e a proibição do uso de redes sociais pelos investigados.
O esquema
Segundo as investigações, o bando atuava de forma estruturada e hierarquizada em diferentes funções, como líderes religiosos, "laranjas", influenciadores digitais e administradores de redes sociais. O esquema se baseava na manipulação da crença religiosa com a promessa de riquezas milagrosas, em uma teoria apelidada de Nesara-Gesara.
As vítimas eram abordadas tanto em cultos e congregações quanto pela internet: grupos no WhatsApp, canais no YouTube, Instagram e Telegram. Os golpistas afirmavam que as pessoas haviam sido escolhidas por Deus para receber uma "bênção financeira", que se confirmaria com a compra de frações de títulos financeiros falsos. Os estelionatários garantiam que, ao realizar um pequeno aporte financeiro, os compradores teriam retornos milionários.
Os fiéis, em sua grande maioria evangélicos, acabavam convencidos a investir suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias, acreditando que teriam retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica. As promessas incluíam transformar 25 reais em 1 octilhão de reais ou investir 2 mil para ganhar 350 bilhões de centilhões de euros.
Para se ter noção, 1 octilhão de reais corresponde a 1 seguido de 27 zeros. Já um centilhão é o número 1 seguido de 600 zeros. O economista Newton Marques garantiu ao Correio que valores exorbitantes como esses sequer existem. "Criminosos usam esse discurso apenas para 'dourar a pílula'. Todo golpe financeiro tem o mesmo modus operandi. Os descuidados acham que vão ter ganho fácil, e os falsos profetas prometem que concretizarão tudo isso", disse.
Para tornar a fraude mais convincente, os golpistas entregavam contratos falsos e utilizavam documentos fictícios, como notas inexistentes de "100 trilhões de dólares". Como consequência, muitas vítimas venderam bens, como casas e carros, e acabaram acumulando dívidas. Além do prejuízo financeiro, o golpe gerou danos psicológicos severos, com pessoas entrando em depressão, rompendo laços familiares e até adoecendo devido ao desespero causado pelas perdas econômicas.
Fonte: CB