A partida entre Sobradinho e Ceilândia pelo Campeonato Candango de Futebol Feminino , no sábado (16/9), foi interrompida por dois minutos ap...
A partida entre Sobradinho e Ceilândia pelo Campeonato Candango de Futebol Feminino, no sábado (16/9), foi interrompida por dois minutos após uma denúncia de racismo contra a goleira do Sobradinho, Myllene Batista Belém, de 22 anos.
O jogo aconteceu no estádio Abadião, em Ceilândia. Na transmissão oficial da partida, divulgada pelo canal da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), é possível ver, aos 31 minutos, que um homem de camiseta branca, localizado no espaço da torcida do Ceilândia, se aproxima do campo.
Ele grita em direção à goleira durante alguns segundos. Por volta dos 34 minutos de partida, o jogo é interrompido após Myllene comunicar a situação ao árbitro, que conversa com as capitãs do time antes de retomar a competição.
Ao Metrópoles, Myllene disse que as ofensas teriam ocorrido após ela marcar uma falta. “Ele começou a me xingar de ‘idiota, mongol, retardada, fraca, burra’. Foi quando ele passou a me chamar de ‘cabelo de boneca'”.
A jogadora disse que ficou calada em um primeiro momento. As ofensas teriam continuado e o homem chegou a mostrar o dedo para Myllene, conforme relato da atleta. Ela procurou a arbitragem. “Uso meu cabelo, compro com o meu dinheiro. Uso desde pequena e ele vem me chamar de cabelo de boneca”, disse a jogadora.
A situação foi relatada pelos narradores da partida durante a transmissão. “Alguém está falando alguma coisa dela. Espero que não seja um caso de racismo”, diz um dos narradores da FFDF.
Veja:
Revolta
Segundo Myllena, a equipe do Sobradinho chamou a polícia, mas o agressor já havia fugido quando os militares chegaram. A atleta registrou um boletim de ocorrência na Delegacia Eletrônica da Polícia Civil. Além disso, o caso ficou registrado na súmula do jogo.
“Aos 24 minutos do primeiro tempo, fui informado pela goleira da equipe Sobradinho E.C., senhora Myllene Batista Belém, que a mesma ouviu as seguintes palavras proferidas por um torcedor que se encontrava no espaço destinado a torcida da equipe mandante: ‘goleira cabelo de boneca, cabelo de barbante’. Solicitei ao delegado da partida, Sr. Mayco Augusto Pereira, que enviasse uma equipe de segurança ao local a fim de tentar identificar o torcedor, o que não foi possível”, consta no documento assinado pelo árbitro.
Ao Metrópoles, Myllena informou que já havia ouvido ofensas racistas em outras partidas contra o Ceilândia, mas que foi a primeira vez que reagiu. “Eu sou preta. A maioria das mulheres pretas usam cabelo assim. É muito difícil levar essas coisas de racismo para dentro do campo, mas eu fiquei muito chateada”, pontuou. “Minha família estava toda lá assistindo o jogo, foi desnecessário”, continuou.
A atleta de 22 anos mora em Samambaia Sul e joga futebol desde criança. A profissional acumula passagens por diversos times da capital. Ela afirmou que espera um posicionamento do time do Ceilândia e da Federação de Futebol do Distrito Federal.
Em nota oficial divulgada nas redes sociais, o Sobradinho Esporte Clube afirmou que injúria racial é um crime “inaceitável, repugnante e intolerável”. “O Sobradinho Futebol Feminino se solidariza integralmente com nossa atleta Myllena e condena veementemente qualquer forma de discriminação”, consta no comunicado.
Outro lado
A reportagem do Metrópoles procurou a equipe do Ceilândia Esporte Clube para prestar esclarecimentos sobre o caso. O treinador do time, Moacir Júnior, afirmou que não viu a situação, mas que repudia preconceito racial.
Ele também pontuou que a arbitragem não o comunicou sobre a situação durante ou após a partida.
“Como sou treinador e fiquei muito focado na partida, não vi essa situação. Mas sou completamente contra quaisquer formas de discriminação e de preconceito racial. Se o torcedor for identificado tem que ser punido no rigor da lei”, afirmou o técnico.
A Federação de Futebol do Distrito Federal também foi procurada pela reportagem, mas ainda não se manifestou sobre o caso.
Fonte: Metrópoles